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sábado, 9 de março de 2024

”A população geral não sabe o que está acontecendo, e eles nem sequer sabem que não sabem. “ Noam Chomsky


A citação atribuída a Noam Chomsky, evoca um tema central na filosofia e na teoria do conhecimento: a questão da consciência e da ignorância. .

Chomsky, renomado linguista, ativista político e filósofo, aborda a ideia de que a maioria das pessoas não está ciente da verdadeira natureza dos eventos e fenômenos que ocorrem ao seu redor. Essa falta de consciência é dupla, pois não apenas as pessoas não possuem conhecimento sobre determinados assuntos, mas também não têm consciência de sua própria ignorância. 
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Essa reflexão nos leva a considerar a importância do conhecimento e da consciência na busca pela compreensão do mundo. A ignorância, nesse contexto, não é apenas a ausência de conhecimento, mas também a falta de consciência de nossa própria falta de conhecimento. É um estado de inércia intelectual, onde permanecemos presos em um ciclo de desinformação e ilusão. 
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A análise de Chomsky nos convida a questionar a natureza do conhecimento e a forma como o adquirimos. Ele sugere que a população em geral é frequentemente submetida a sistemas de poder e influência que moldam e limitam sua compreensão do mundo. Isso pode ser visto em várias esferas da sociedade, desde a mídia e a política até a educação e a cultura. 
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No entanto, essa análise não pode ser entendida como uma visão determinista e pessimista. Chomsky nos convida a despertar para a importância da busca pelo conhecimento e pela conscientização. Ele nos lembra que, embora possamos estar imersos em um ambiente de desinformação e manipulação, temos a capacidade de questionar, investigar e buscar a verdade. 
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A citação de Chomsky também nos leva a refletir sobre a responsabilidade individual e coletiva na busca pelo conhecimento. Se a maioria das pessoas está inconsciente de sua própria falta de conhecimento, cabe a cada um de nós buscar a verdade, questionar as narrativas dominantes e estar disposto a confrontar as verdades desconfortáveis. 
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Além disso, a citação de Chomsky nos convida a refletir sobre o papel da educação na sociedade. Uma educação que promova o pensamento crítico, a análise reflexiva e a busca pela verdade pode ajudar a combater a ignorância e despertar a consciência das pessoas. É através da educação que podemos capacitar indivíduos a se tornarem conscientes de sua própria ignorância e a buscar conhecimento de forma independente. 
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Em resumo, a citação de Noam Chomsky nos leva a refletir sobre a necessidade de consciência e conhecimento na sociedade. Nos desafia a questionar as narrativas dominantes, a buscar a verdade e a tomar a responsabilidade pela nossa própria busca pelo conhecimento. Somente através desse despertar individual e coletivo podemos transcender a ignorância e alcançar uma sociedade mais informada e consciente.


Conteúdo Perfil Facebook de  Jozelise Calgaro




segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Comunismo na Igreja! Por que debatem tanto isso? Existe mesmo excomunhão automática a quem se declare comunista?

Por Hermes Fernandes

Somos bombardeados a todo instante sobre a presença ou ausência de discurso comunista dentro da Igreja. Alguns destes debates sequer tem como tema o pensamento filosófico ou é acerca de Ciências Políticas. Fato é que, quando um pregador exorta o Povo de Deus a uma Igreja mais comprometida com os pobres, já vem aquela ofensiva afirmação de que isso é pensamento comunista. Digo ofensiva não por ser “comunista” uma alcunha vergonhosa. Ao contrário, grande parte das pessoas, ao menos, sabem o que vem a ser pensamento marxista, sistema de governo socialista, comunismo. Ouvem e repetem. Sem conhecer. São os que compram brigas meio que “pegando o bonde andando” e, na maioria das vezes, a queda é certa.

Afinal, comunismo, socialismo ou marxismo são conceitos incompatíveis com a ideia de ser cristão? Existe excomunhão automática a quem se declare comunista? Vamos ponto ao ponto.

Marx e Engels
Karl Marx foi um filósofo que nasceu em 05 de maio de 1818, na Prússia – um reino alemão de 1701 a 1918.

A obra de Marx em economia estabeleceu a base para muito do entendimento atual sobre o trabalho e sua relação com o capital, além do pensamento econômico posterior. Publicou vários livros durante sua vida, sendo O Manifesto Comunista (1848) e O Capital (1867–1894) os mais proeminentes.

Em 1843, mudou-se para Paris, onde começou a escrever para jornais radicais e conheceu Friedrich Engels, que se tornaria seu amigo de longa data e colaborador. Desta relação e parceria nasceu muito do conceito que depois será chamado de marxismo e socialismo. A preocupação destes dois pensadores se centrava na questão da economia, sociologia e fenomenologia histórica. Em nenhum momento se dedicaram ao pensamento religioso. Sequer se ocupavam destas questões. Uma das poucas palavras de Marx sobre a religião foi a que afirma ser esta o “ópio do povo”. Algo que escandalizou muitos religiosos. Certo! Parece estranha e até mesmo desdenhosa quando vista fora de contexto. Entretanto, Marx se referia ao fato de não se buscar superação diante de problemas por acreditar que o estado de sofrimento seja a vontade de Deus. Também cabe aqui considerar o fato de se usar da religião para marginalizar e manter seus seguidores sob controle, dando ao conceito de Vida Eterna uma esperança vazia, com a qual, não se buscava uma vida plena nesta existência. Marx critica o fatalismo, o fundamentalismo religioso e a alienação. De forma alguma, a religião em si.

Socialismo, Comunismo e Governos Totalitários

Inspirados nas obras filosóficas de Marx e Engels, muitos países tiveram e ainda hoje têm governos chamados comunistas ou socialistas. Entre os mais celebrados na história, temos a Rússia, antiga União Soviética, Cuba, China, outros. Tomemos como norte de reflexão a Rússia, isto é, a União Soviética.

União Soviética (em russo: Советский Союз, transliterado como Sovetskiy Soyuz), foi um Estado socialista localizado na Eurásia que existiu entre 1922 e 1991. Uma união de várias repúblicas soviéticas subnacionais. A URSS era­­­­­­­­­­­­­­­ governada por um regime unipartidário, altamente centralizado, comandado pelo Partido Comunista e tinha como sua capital a cidade de Moscou. Existiu durante grande parte do século XX. Foi a maior nação do planeta e ficou marcada por ser a grande representante da ideologia socialista. Seu surgimento está relacionado com a Revolução de 1917, que transformou a Rússia em uma nação socialista.

Não obstante que os sonhos de Marx e Lenin tangessem à igualdade econômica a todos homens e mulheres, quando o pensamento Marxista se fez presente em um sistema de governo, foi aplicado pela coerção. Tolhendo liberdades, impondo o unipartidarismo, combatendo quaisquer instituições que anunciassem a liberdade como ideal, ou o direito. A “grande mãe Rússia” fora invocada como uma espécie de divindade a ser idolatrada. Senhora das liberdades, dos pensamentos, do ser ou não ser de quaisquer coisas. Entre as instituições atacadas pelo Governo Soviético, não poderia ser diferente, estavam as religiões. Durante o regime soviético a Igreja Católica foi da censura à total proibição. Podemos ver de forma bem presente este difícil momento no livro de Walter J. Ciszek, O Espião do Vaticano, Editora Flamboyant, 1999. O livro deste jesuíta é um diário de seus mais de 20 anos como preso político na União Soviética. Motivo de sua prisão? Dar atendimento pastoral aos católicos soviéticos naqueles tempos de repressão. Como castigo, foi condenado por espionagem, preso por mais de duas décadas e entre fome, torturas e trabalhos forçados, quase padeceu nestes tempos de cativeiro. O caso de Ciszek não foi algo isolado. Mortes, torturas e trabalhos forçados foram impostos aos muitos católicos que permaneceram fiéis ao seu chamado de seguimento de Jesus, não obstante a ameaça às suas vidas.

Estes fatos não foram ignorados pelos católicos do mundo inteiro. E, claro, foi tema de muitos debates e elocuções pontifícias. A Igreja não iria apoiar um sistema de governo que se sustente pelo cerceamento das liberdades, por condenar à tortura, prisão e morte aqueles que confessassem livremente sua fé em Jesus. Neste sentido, toda vez que vemos alguma restrição ao comunismo por parte da Igreja, devemos entender que esta se refere aos sistemas de governo opressores e assassinos, como o foi na União Soviética. A Igreja não se opõe à filosofia marxista em si. Se opõe a todos aqueles que, inspirados por esta corrente filosófica, recorrem ao totalitarismo e à violência. Políticas de morte se sustentam por muitas formas de pensamento. Nazismo, fascismo, marxismo. O problema não é o pensamento em si, e – sim – o que advém dele. O homem quando quer fazer o mal, pode usar até a Bíblia como fonte de inspiração. Mesmo que erroneamente.

Existe Excomunhão automática para quem é comunista?

Atualmente, muitos são os que afirmam verdades sem as ter comprovado. As informações falsas (fakenews) pululam na internet. Se não por má índole, pelo menos, por irresponsabilidade; muitos de nossos irmãos e irmãs afirmam e espalham falsas verdades sobre o Magistério da Igreja. Há quem acredite mais em uma postagem, uma informação no WhatsApp, do que um informe oficial da CNBB. Um grande teólogo de nossos tempos, Pe. José Adriano Stevaneli, chama a este lastimável fenômeno de “Magistério Paralelo”. Sim, paralelo! Não faz parte da Igreja, mas a prejudica em seu caminhar. Entre estas mentiras maquiadas de verdade, está a que afirma ser excomungado quem se identifique com o comunismo. Mentira! Vejamos.

Como vimos acima, em certo momento da história, a Igreja se opôs ao Comunismo. Em verdade, se opunha ao totalitarismo resultante da tomada de poder do Partido Comunista na Rússia e outras nações que viveram semelhante história. Como pudemos ver no acima citado livro-testemunho de Pe Walter J. Ciszek, as pessoas eram enviadas aos campos de trabalhos forçados. Pelo simples motivo de se opor ao pensamento político vigente. A Igreja não se opôs ao comunismo em si, mas às consequências dos atos do governo comunista. Como se calar diante de condenações injustas, tortura, cerceamento da liberdade de pensamento, trabalhos forçados, desrespeito à propriedade etc.? 
Mas se olharmos bem, estes crimes, estes pecados contra a humanidade, não são propriedade do comunismo. Não se trata de um sistema político e sim de vilania humana. 
Há que se lembrar que a Ditadura Militar vivida no Brasil e em outros países, cometeu estes mesmos crimes e era, confessamente, opositora ao comunismo. Os Governos Militares se diziam inimigos declarados do comunismo e, mesmo assim, torturaram, mataram, executaram, usurparam o poder. 
O capitalismo também tem sua dose de tirania. A tirania do mercado exclui, mata por indigência, corrompe a ética. Por fim, podemos entender que entre os humanos sempre haverá a má política. Não se trata da filosofia que a sustente no campo das ideias e, sim, de caráter. O vilão sempre será vilão. Indiferente de qual partido ou pensamento político ele se defina.

  • Quanto à chamada excomunhão automática aos comunistas, há uma manipulação descontextualizada dos Documentos da Igreja quando alguém defende essa ideia.

Em 15 de julho de 1948, L’Osservatore Romano publicou um decreto contra o comunismo do Santo Ofício, que excomungou os que propagavam “os ensinamentos materialistas e anticristãos do comunismo“, que foi amplamente interpretado como uma excomunhão do Partido Comunista Italiano (em italiano: Partito Communista D’Italia), que, no entanto, não foi mencionado no decreto. Aqui já se percebe uma ambiguidade na própria memória dos fatos.

Em 1º de julho de 1949, o Santo Ofício (hoje Dicastério para a Doutrina da Fé), publicou mais um decreto condenatório, aquele que passou a ser popularmente conhecido como o Decreto contra o comunismo. Neste documento, o Santo Ofício proibiu os católicos de favorecerem, votarem ou se filiarem em partidos comunistas; e de ler, publicar ou escrever qualquer material que defendesse o comunismo (citando os cân. 1399 e 2335 do Código de Direito Canónico de 1917, atualmente revogado). Este decreto voltou também a confirmar a excomunhão automática ipso facto (ou latae sententiae) de todos os católicos que, em obstinação consciente, defendiam abertamente o comunismo, porque eram considerados apóstatas. Lembremos que o Cân. 1399, do Código de Direito Canônico de 1917, dava suporte ao Decreto de Excomunhão ao Comunismo e seus adeptos.

  • O Papa São João Paulo II, aos 25 de janeiro de 1983, apresenta e oficia o Novo Código de Direito Canônico. Nesta versão atualizada do Código do Direito Canônico, no Cân. 6, § 1 e 3, diz:

§1 “Com a entrada em vigor deste código, são ab-rogados:
§3 quaisquer leis penais, universais ou particulares, dadas pela Sé Apostólica, a não ser que sejam acolhidas neste código”


O que significa estar revogadas quaisquer leis ou normas punitivas presentes em documentos legislativos da Igreja anteriores à promulgação do atual Código de Direito Canônico, que não constem citadas no mesmo. Ainda sublinho: não há qualquer Cânon dedicado ao tema comunismo no atual Código de Direito Canônico. E, como vemos no parágrafo 3, do Cân. 6, se não está contemplado no atual códice, deve se desconsiderar o que constou anteriormente.

Neste sentido, é falsa a afirmação da excomunhão automática de comunistas, simpatizantes e eleitores desta visão política. 
  • Se você afirma isso, repetindo por não saber a verdade, ou por convicção; sua afirmação é uma mentira. Cuidado para não se manter na mentira de forma voluntária! Isto faz de você um mentiroso e traidor da Igreja!

Discurso Social da Igreja não é Comunismo

Um equívoco recorrente hoje em dia é atribuir qualquer discurso que tenha em si relação com Justiça Social, Direitos Humanos, Direitos Ecológicos ao pensamento marxista. Quando isso acontece dentro da Igreja, na homilética, reflexão teológica, iniciativas como a Campanha da Fraternidade; estejamos certos de que nada há correlacionado com pensamento marxista. 
A Doutrina Social da Igreja teve início em seu próprio magistério. De forma mais sistemática, desde a Encíclica Rerum Novarum (1891), de Leão XIII, que a Igreja tem se mostrado preocupada com as injustiças sociais vividas pelos homens e mulheres. 
Encíclicas posteriores a esta foram muitas. Sínodos, Conferencias Episcopais, entre tantas iniciativas; mantiveram acesa a chama de se buscar um mundo mais justo e humano aos homens e mulheres de boa vontade. A isto não se atribui pensamento comunista, e sim, fidelidade ao Evangelho.

Queira Deus inspirar cada dia mais homens e mulheres que se sintam suscitados a um espírito profético, pelo qual, se busque o Reino de Deus e sua Justiça. Como nos inspira as Diretrizes Gerais da Evangelização:


EVANGELIZAR no Brasil cada vez mais urbano,
pelo anúncio da Palavra de Deus,
formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo,
em comunidades eclesiais missionárias,
à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, cuidando da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus rumo à plenitude.


(Objetivos Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil, CNBB)



domingo, 13 de novembro de 2022

A Igreja Católica do Brasil está rachando. Artigo de Pedro A. Ribeiro de Oliveira

"No quadro de perda de importância da Igreja na sociedade, muitos clérigos aderem ao ideário neofascista e assumem uma postura reacionária tanto nas questões da sociedade quanto da religião. Embora essa adesão seja mais visível entre os padres e mais discreta entre os bispos, aí reside o risco de ruptura da comunidade católica: quando um lado não reconhece o outro como legitimamente católico. Não há mais como costurar o tecido religioso rasgado. Tudo que se consegue fazer hoje é colocar remendos, que cedo ou tarde esgarçarão mais ainda o tecido", analisa Pedro A. Ribeiro de Oliveira, sociólogo.

Segundo ele, "se o movimento tradicionalista continuar crescendo, os católicos que não o aceitam se afastarão e a Igreja Católica poderá viver o pior dos cenários: sua redução a um conjunto de seitas tradicionalistas".
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A sua aposta é na necessidade de "elevar o teor profético da Igreja Católica". Pois "não é necessário que os e as profetas sejam muitos/as. Basta que sejam pessoas admiradas e respeitadas por sua fidelidade ao Evangelho, por sua prática pastoral e por sua adesão às orientações de Francisco. Serão essas as vozes proféticas que suscitarão novas forças ao Povo de Deus que está no Brasil".
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Eis o artigo:

Entre os muitos estragos causados pelo recente processo eleitoral está o agravamento do dissenso no interior da Igreja Católica. É como se os remendos que já há algum tempo vinham sendo colocados sobre um tecido esgarçado revelassem de uma hora para outra sua inutilidade. Não há mais como esconder: a Igreja Católica está dividida e essa divisão não pode mais ser disfarçada.
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Quero aqui sugerir uma explicação sociológica para esse fato e apontar um caminho para quem quer se manter dentro da Igreja sem precisar fazer de conta que está num ambiente de irmãs e irmãos na fé.

Bem sabemos bem que a Igreja Católica se distingue entre as Igrejas cristãs por sua enorme capacidade de conviver com as diferenças religiosas. Desde que tenha sido batizada e não renegue publicamente a fé ou a igreja, a pessoa é católica – pouco importando o que crê ou sua maneira de relacionar-se com o sagrado. O fato novo, agora, é que o avanço neofascista na Igreja trouxe divergências de ordem moral e política incompatíveis entre si, tornando praticamente impossível uma verdadeira comunhão eclesial. Sinal disso é a crescente disseminação de rituais do tempo de Pio XII, como se o concílio Vaticano II não tivesse existido.

Mais do que uma afinidade afetiva entre a postura política neofascista e os ritos anteriores à reforma litúrgica, existe uma afinidade estrutural entre eles. O que os une estruturalmente é a rejeição à última inovação da modernidade: o ascenso social das mulheres minando o sistema familiar fundado no patriarcado. É o próprio sistema de poder masculino – chefe de família ou chefe de igreja – que se esvai, obrigando todos os demais componentes a redefinirem seu papel.

Como se isso fosse pouco, vem à tona toda a questão da sexualidade, agora vista sob o prisma das teorias de gênero e assumida pela bioética que não se deixa reger por normas religiosas. O ideário patriarcal, que sustentou tanto a organização familiar quanto a principal Igreja do Ocidente, encontra-se agora sob ataque não só do feminismo, mas também de outros movimentos libertários, decoloniais e contra o supremacismo.

Diante desse ataque, o elo entre o neofascismo e o enrijecimento da liturgia tridentina cria um movimento propriamente reacionário: ambos se colocam em defesa de um sistema de poder cujas bases estão irremediavelmente abaladas. Aí reside sua afinidade estrutural. Nem um nem outro apresenta algum projeto de futuro: ambos idealizam um passado que nunca existiu e infundem o medo ao futuro assombrado por um fantasma comunista. O período eleitoral e os movimentos golpistas posteriores ao resultado do 2º turno mostraram o quanto esse medo foi difundido em diferentes segmentos da população brasileira, entre os quais destaco os católicos que migraram do movimento carismático para o tradicionalismo.

No campo católico, esse movimento reacionário veio aprofundar o dissenso que já estava em curso numa Igreja em processo de encolhimento, como mostram as celebrações dominicais cada vez mais esvaziadas de fiéis. O censo demográfico certamente mostrará o decréscimo da população católica com menos de 40 anos de idade, seguindo a tendência apontada pelo censo de 2010.

A Igreja Católica ainda se mantém como espaço de sociabilidade da população acima de 50 anos, mas esta diminui com o tempo. Mas, em vez de criar novos espaços de sociabilidade – como são as Comunidades Eclesiais de Base e as Pastorais Sociais –, o clero aposta em celebrações-espetáculo, em programas religiosos na TV, em turismo religioso e em programas radiofônicos de autoajuda. Mantida essa tendência, dentro de mais algum tempo a Igreja Católica brasileira, confinada aos santuários, templos e sacristias, terá perdido a incidência na vida da população em geral.

Nesse quadro de perda de importância da Igreja na sociedade, muitos clérigos aderem ao ideário neofascista e assumem uma postura reacionária tanto nas questões da sociedade quanto da religião. Embora essa adesão seja mais visível entre os padres e mais discreta entre os bispos, aí reside o risco de ruptura da comunidade católica: quando um lado não reconhece o outro como legitimamente católico. Não há mais como costurar o tecido religioso rasgado. Tudo que se consegue fazer hoje é colocar remendos, que cedo ou tarde esgarçarão mais ainda o tecido.

Posso ter pintado esse quadro com tintas fortes, mas ele é real. O apoio explícito de padres ao governo agora derrotado e o silêncio da maioria do episcopado diante das barbaridades por ele cometidas só confirmam a tendência de ruptura no interior da comunidade católica. Isso não significa que estamos às vésperas de um cisma – com a institucionalização de duas igrejas de confissão católico-romana –, mas caminhamos rapidamente para um quadro de desinteresse de um lado em participar da mesma Igreja que o outro. Se o movimento tradicionalista continuar crescendo, os católicos que não o aceitam se afastarão e a Igreja Católica poderá viver o pior dos cenários: sua redução a um conjunto de seitas tradicionalistas.

Diante desse quadro, é preciso elevar o teor profético da Igreja. Tivemos bispos como Helder Camara, Paulo Evaristo, Pedro Casaldáliga, Tomás Balduino e outros que ousaram quebrar a unanimidade de um episcopado silencioso diante de violações aos direitos humanos. Eles devem ser sempre lembrados, para que os bispos e padres que hoje seguem seu exemplo não se sintam como destoantes do conjunto, mas hoje a Igreja Católica já não se entende mais apenas como um espaço de bispos e padres. O movimento histórico de superação do patriarcado entrou também no campo católico onde, desde a segunda metade do século passado, religiosas, leigas e leigos ocupam progressivamente posição de liderança nas comunidades de base, tendo sua autoridade reconhecida pelos fiéis, independentemente de seu reconhecimento canônico. Existe aí um potencial profético que poderá em breve tornar-se a principal fonte de vitalidade pastoral na Igreja Católica brasileira.

Não é necessário que os/as profetas sejam muitos/as. Basta que sejam pessoas admiradas e respeitadas por sua fidelidade ao Evangelho, por sua prática pastoral e por sua adesão às orientações de Francisco. Serão essas as vozes proféticas que suscitarão novas forças ao Povo de Deus que está no Brasil. Essas vozes proféticas não impedirão a inevitável redução numérica da Igreja Católica no país, mas poderão dar realidade ao antigo sonho das Comunidades Eclesiais de Base, animadas pela Teologia da Libertação e pela leitura popular da Palavra de Deus, como ensina Frei Carlos Mesters. Assim será gerado um novo jeito de ser Igreja: uma igreja libertadora que favoreça a superação do patriarcado e lance as raízes de uma sociedade justa, fraterna e respeitosa da Casa Comum.
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Se assim for, este momento doloroso de divisão eclesiástica pode tornar-se também o momento germinal de uma Igreja atualizada para assumir o projeto de Jesus na história do século XXI.

FONTE: https://www.ihu.unisinos.br/

Opinião editor desse blog:
"Esse racha era previsível, pois padres se colocaram como cabos eleitorais e não como Pastores do rebanho confiado a eles por Cristo, e isso leva os católicos mais fieis aos evangelhos a desconfiança a se afastarem ou esfriarem sua relação com a Igreja"
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"Confiemos que o Bom Pastor irá novamente reunir Seu Rebanho como um Novo Pentecoste.



segunda-feira, 18 de julho de 2022

AGRADECIMENTO- "Vida é energia"

Nesta tarde ensolarada eu gostaria de deixar meus sinceros agradecimentos registrados em singelas e breves palavras e intenções.

Agradecimentos direcionados ao universo (ou Deus); aos verdadeiros amigos, que em meio às suas vidas aceleradas não se esquecem de mim; aos que se fizeram de falsos amigos; aos infaustos, que por suas razões desgostam da minha pessoa; aos indiferentes; aos anjos e mentores protetores; e, por fim, à vida em si, em toda a sua magnificência.
Agradeço por todas as oportunidades maravilhosas, das quais seus caminhares, muitas vezes, parecem lentos diante da minha percepção, dos meus meros olhos humanos e da minha afoiteza, demandada pelo ego e pelas tensões sociais, mas sei que tudo segue um curso correto. Todas as situações estão a funcionar na correta sincronia do tempo e nas mais precisas condições do existir.
Agradeço a cada uma daquelas pessoas pelas boas e maliciosas palavras, pelos ganhos e perdas, pelos elogios e críticas – pelas críticas construtivas e também pelas negativas.
Agradeço por cada declaração que me foi enunciada, sendo ela de amor ou de ojeriza, de respeito ou de afronta, de tolerância ou de discriminação.
Agradeço pelo acolhimento fraterno, pelas muitas generosidades, mas também sou grata pelos bullying’s sofridos.
Sou grata pelas portas que se abriram e pelas que se fecharam, por quem compreendeu um pouco do meu jeito peculiar e por quem me interpretou como quis, e nem sempre da melhor maneira. Obrigada a quem me amou e também um muito obrigada a quem me iludiu – a quem ficou e a quem se foi para o eviterno.
Tudo o que vivi até hoje, todos os sentimentos, não tem preço, mas valor único e inexplicável. Foram únicos, cada um uma importante passagem da vida, cada um um diferente aprendizado. Eu não mudaria absolutamente nada do que vivi e senti. Todas as alegrias e dores foram únicas e enriquecedoras. Carrego minhas cicatrizes emocionais com orgulho e agradeço a cada uma das pessoas que ficaram em meu passado, por terem feito parte da minha história, ensinaram o que foi preciso.
Em compensação, um muito obrigada ainda mais especial àquelas pessoas que permanecem em meu presente e a aqueles que estarão comigo para a eternidade.
Que os nossos dias vindouros sejam impregnados de mais conquistas, novas superações e novas histórias! 😘