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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O MENINO E OS GIBIS(Conto de Natal)


As sacolas estavam carregadas de compras, no trânsito os motoristas buzinavam sem parar, os estacionamentos estavam lotados como se não houvesse espaço para mais ninguém, mesmo assim como milagre tudo se movia, as lojas vendiam, as pessoas compravam, o mundo girava.
No meio disso tudo um homem caminhava preocupado com o pouco dinheiro que tinha nos bolsos, onde poderia encontrar algo para presentear seu pequeno filho?
As lojas eram grande demais, o que ele iria fazer dentro dumas delas? Entrou desconfiado que os outros estivessem desconfiando dele. Os vendedores olhavam para ele sem muita pretensão de alguma venda substancial, respondiam a alguma pergunta com aquele jeito despreocupado sem olhar no seu rosto. Enquanto isso outros clientes que denunciavam boas vendas eram imediatamente atendidos.

Em casa o menino sonhava com papai-noel, presentes, alegria, mas de vez em quando abaixava a cabecinha miúda, era pequeno ainda, mas ouvia e sentia as dificuldades diárias da família. Esse sonho de natal não podia pertencer a sua vidinha de bolinha de gude, figurinhas, e doces baratos que já estavam causando-lhe caries que no futuro seria outro problema, poderia ficar desdentado e desfigurando a sua aparência de um menino bonito e perfeito.

O homem cabisbaixo e com movimentos tímidos saiu da loja, deu uma ultima olhada nas vitrines e a mercadoria mais barata que ele viu estava muito acima dos seus 5,00 reais.
Introspectivo passava em frente de diversos bares e pensava: "a pinga é barata e afoga muitas mágoas do ano que estava no fim, dos favores que fez, do seu comportamento submisso e obediente, e o resultado foi terminar o ano com pouco dinheiro no bolso." E o menino da cabecinha miúda?Sonhava com o papai-noel. Empurrou a nota para o fundo do bolso como se a obrigasse a ficar bem longe de outro destino, continuou andando sem esperança de comprar o presentinho para seu filho.

O menino da cabecinha miúda sempre ficava com os joelhos esfolados ao se arrastar pelo chão brincando com as bolinhas de gude, era um craque nas vizinhanças e sempre tinha as bolinhas mais coloridas que pareciam verdadeiras jóias.

Na praça que o homem sempre atravessa para ir ao trabalho, quantas madrugadas frias, quantas nevoas úmidas, chuvosas, ou deliciosas nos dias calorentos do verão porque ali a brisa corria livre, passava pelos mendigos que dormiam despreocupados, e sempre imaginava qual a diferença de si e eles: são pobres, mas livres.

Naquele dia não tinha ânimo de voltar para casa e enquanto caminhava observava as novidades: eram tantas coisas que nos dias corridos não tinha prestado atenção uma delas foi uma banquinha de jornais e revistas.
Parou diante dela, olhou para o proprietário o homem olhou para ele, como sempre ele ficava desconfiado que desconfiassem dele, às vezes dava razões a eles, pois o mundo está cheio de malandros.

Mais adiante numa loja de eletrodomésticos as TVs mostravam todos os canais, noticias, filmes, novelas etc. Num dos canais apresentavam um telejornal e o apresentador dava conta que os deputados haviam aumentado seus salários em quase 91%. E ele trabalhava o mês inteiro, sem faltas, atrasos, obediente, fazia favores e o que recebia estava muito longe daqueles salários e levaria anos para tentar juntar apenas uma pequena parte daquelas, e nos dias de eleições ele chegou a ser importante, todos lembravam dele e dos seus companheiros, pobres como ele. Quantas promessas! Quantas soluções! Ele acreditava mais uma vez que tudo iria mudar, mas percebeu que tudo parecia que continuava no mesmo jeito: teria que ser obediente, fazer favores... Reclamar?Seria considerado criador de casos... Fazer o que? O mundo é assim mesmo, injusto. Conformado foi adiante...

Ali entre os seus devaneios sentiu um puxão forte nas suas calças, olhou e um garotinho lhe disse "moço tem R$1,00? Eu queria comprar uma revistinha de quadrinhos".
Naquele momento o homem descobriu o presente para o "cabecinha miúda", pois era dessa forma carinhosa que ele se referia ao seu pequeno filho, tinha R$ 5, 00 daria para comprar 5 revistinhas, iria escolher as melhores histórias, quem sabe não seria o ponto inicial para o futuro do seu filho, poderia despertar nele o gosto pela a leitura.

Voltou à banca de jornais e revistas desconfiando que desconfiassem dele, pois era a segunda vez que estava ali. Ao lado esquerdo havia diversas revistinhas amontoadas e o cartaz avisava R$ 1,00. O jornaleiro aproximou-se com um semblante preocupado: com as bochechas caídas, com cigarro no canto a boca, a testa franzida, passando a mão no nariz com se limpasse alguma coisa. Com certeza passava pela sua mente uma indagação, o que aquele homem pretendia? Assim o homem lhes disse:- "tenho R$ 5,00 e preciso comprar um presente de Natal para meu menino, vou levar cinco dessas revistinhas, por favor, ajuda-me na escolha?".

O jornaleiro comoveu-se com aquele pobre homem, indicou as melhores revistas infantis e de brinde deu-lhe um livro e mais 1 revista.

Próximo dali o menino da praça que havia pedido R$1,00 para comprar uma revista olhava para o homem e sorria, o homem se lembrou do seu desejo, desse modo iria presenteá-lo com a revistinha que ganhara de brinde, no entanto quando olhou de novo não havia mais ninguém, procurou pelas redondezas, perguntou a todos, e ninguém soube dizer quem era o menino...