quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Comentário de Mario Augusto de Moraes Machado (Morani)-Nova Friburgo-RJ sobre o meu conto “O menino deficiente” que publiquei nesse blog no dia 26/05/2010

Grande vida, sem que tivesse a noção exata da "prova" a qual se sujeitava. Criança ainda e já se formava em seu espírito vivaz os questionamentos à sua própria condição de Vida. Ansiava descobrir o futuro abrindo-lhe às portas todos os seus receios, todas as suas esperanças e todos os seus sonhos. Há muitas outras crianças assim. Eu fui uma delas, também.


"O que pode haver além do horizonte?" Só o Futuro descortinaria aos anseios do Menino Deficiente o que seria a sua existência além dos mistérios, além de seus medos e de suas aspirações. Ele se escondeu ao máximo para não se ver conspurcado em seus sonhos e em seus planos, que os tinha, mas mal formados pelas dúvidas que carregava consigo como pesado fardo cheio de pavores. Sem entender as razões de suas limitações não lobrigou que força maior se agigantava em seu íntimo. Era preciso dar tempo ao tempo. Transformou-se em um desbravador de "sucatas" por acreditar, talvez, que o seu pequeno mundo jamais sairia das fronteiras em que vivia. Os velhos livros lhe abriram a visão maior - os frutos das sucatas.

Encontrou, ele, na singularidade da situação, os primeiros degraus de sua subida. A força de vontade indômita adveio de um jogo de bola em que levou uma pancada e deixou o campo de jogo. Voltou. Demonstrava, já, toda a sua "teimosia" em não aceitar ser menos que os demais. Diga-o sua irrepreensível vontade de montar a uma bicicleta e sair pedalando com uma só perna - a "boa", à esquerda.

E o que não conseguiria esse Menino Deficiente? Buscar refúgio debaixo de camas, entre teias de aranha, não o assustava. Assustava-o mais os olhos perquiridores das gentes sem sentimentos e sem respeito por sua deficiência. A orfandade o atingiu cedo ainda. Mas havia outro Pai, alerta e cuidadoso, guardando para ele as mais brilhantes situações.

Emocionante é a passagem à praça da cidade e o carrinho de pipocas. Humilhante? Não para ele que via tudo de modo avesso aos dos outros garotos. Continuou a sofrer na escola, mas foi lá que se quebrou uma parte do "gelo" a que se via mergulhado. Ou enfrentava o mundo ou o mundo faria isso o separando de entre os demais. Teria escolha o Menino Deficiente? Não! A Vida o havia escolhido.

Desafios não são para serem testados, mas enfrentados. No íntimo ele sabia e o provou, anos mais tarde. A Natureza não dá saltos, mas caminha lentamente, porém direito ao seu Destino. Uma sua testemunha jamais poderá falar ao seu favor: um passarinho que ele encontrou certa vez sem possibilidade de alar-se em vôos libertadores. Colocou-o às mãos protetoras e em uma prece ao Pai Superior, que já o Tinha à conta de um cavaleiro de capa e espada, atendeu seu pedido. O passarinho alçou vôo direto de sua mão. Que de encantamento! Vaticínios? Sem dúvida foram.

Topou caminhos de pedras e de flores. A qual enveredar? Não seria sua a escolha. Sua escolha já se achava pronta e justa a se encaixar a ele. Ele entendeu que os de pedra foram os primeiros a lhe burilar a Alma como se burila uma pedra preciosa para lhe tirar mais brilho, como os diamantes.

O Menino Deficiente não anda pelo Mundo. Ele anda pelos caminhos ásperos ao mesmo tempo em que suaves de José Bonifácio, SP. Não tem mais sua bicicleta, mas tem um seu veículo automotivo - Fusca - que o atende muito bem nas andanças que empreende pelo município.

Vê-lo por lá, em momentos que seriam de folga, não é difícil. Se você não pode estar lá, imagine-se lá ao seu lado em visitas a lugares ermos a fim de evitar desastres de graves proporções para José Bonifácio e sua população ordeira. É chefe de família; é pai, dos mais dedicado, e mais dedicado filho da Mãe Natureza que o Pai Maior o fixou ali para a proteção de Suas Criações. Eis como vejo atualmente o Menino Deficiente, que deixou de ser.



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